domingo, 21 de fevereiro de 2010

Deixe-me por um instante

Sem dúvida esta década que se esvai foi uma das que mais modificou a nossa vida cotidiana. Ocorreu uma inserção única na tecnologia, os computadores deixaram de ser um instrumento de trabalho e passou a ser algo comum em nosso dia-a-dia. Dessarte, nunca estivemos tão conectados uns aos outros e, também, nunca precisamos tanto uns dos outros. Surgiram várias redes sociais, sejam elas de bate-papos, sites de relacionamentos, ou programas que nos conectam vinte e quatro horas como o MSN. O celular também pode ser um exemplo, hoje ele passou a ser muito mais do que uma tecnologia, é quase uma extensão do nosso corpo. Entretanto, ocorreu um grande aumento de doenças ligadas à depressão, como no recente comunicado da OMS*, aquela está se transformando numa praga e na doença que mais acomete a população mundial, e promete ser em 20 anos a causa de grande problema para humanidade. Será que esta inserção à tecnologia e as novas formas de integração e de convívio social têm alguma relação com casos de depressão? (Não esgotarei o conteúdo desta pergunta neste texto, esta será objeto de análise num texto futuro.)

Arrisco a dizer que sim, e essa é a proposta deste humilde texto. Percebo que ficar sozinho sem estar conectado a todas aquelas parafernálias mencionadas, pelo menos por um instante, ou por algumas horas, tornou-se uma tarefa árdua e difícil. Simplificando, eles não conseguem se aguentar. Por várias vezes encontrei colegas, amigos, conhecidos e similares, em algum momento em que eles precisavam ficar sós, não por que queriam, mas por que eram compelidos por circunstâncias alheias as suas vontades, como num ponto de ônibus, ou isolado numa biblioteca, ou por que tinham que esperar algo, etc. E nesses momentos eu os percebia numa profunda melancolia, com caras pálidas e tristes, e sempre faço questão de perguntá-los o porquê, mas antes, quando me veem, sempre me dizem: nossa, graças a Deus (amém) você apareceu, não estava agüentando mais ficar aqui sozinho. Eu sempre os respondo: Ei! Você estava consigo, não estava só. E eles: ahh é que eu não gosto de ficar sozinho, me dá depressão. A maioria responde isso...

O não isolamento gera adultos que tendem a infantilidade, que não conseguem andar com as suas próprias pernas. Vejo muitas conseqüências negativas para este fato, experimentem numa festa ou em algum lugar que estejam reunidos algumas pessoas e saia por um instante, seja para tomar um ar, ou para dar uma pensada (tipo quem ganhará o BBB**, ou nos problemas corriqueiros da vida.). Você perceberá que a atmosfera mudará, e logo os seus amigos pensarão um milhão de coisas e despejarão adjetivos, como: anti-social, autista, sistemático. Na melhor hipótese dirão que você está muito triste e aconteceu algo sério. Isso tudo por você apenas querer ficar só por um instante?

Está sendo cultuado mais do que nunca (Faustão) o grupo, a felicidade esta que se encontra no final de um arco-íris***, só existe se você estiver abarrotado de amiguinhos, de contatos e de figurinhas no Orkut que não te dão espaço para pensar.

Voltando a proposta inicial, este não isolamento e esta conectividade exarcebada está gerando sim alguns transtornos como a depressão. No próprio conceito da palavra podemos aferir que esta se caracteriza no momento em que o indivíduo toma conhecimento da solidão que se encontra. E estes percebem isso quando por uma jogada do destino, ficam sós, e não tem a quem recorrer. Se tivesse se precavido antes; separado momentos de isolamento, reflexão, e a chamado boa solidão, tenho certeza que esta maldita não viria tão forte.

Assim sendo, como diz o velho aforismo em latim, nosce te ipsum, conheça-te a ti mesmo, há só uma forma de se conhecer, e lhes garanto que não é ficar a todo o momento rodeado de pessoas, e querer fugir da inevitabilidade de uma hora ter que se aguentar. Reserve um tempo, reflita, faça uma caminhada (sem enfiar um mp4 na sua orelha) para que você pense e sinta mais confortável quando os momentos de solidão aparecer. Por favor, não seja mais uma futura vítima daquela inimiga que assombra nossas mentes felizes..


*http://www.portalms.com.br/noticias/OMS-alerta-para-aumento-da-depressao-pelo-mundo/Mundo/Saude/959559908.html

** Eu não assisto este programa maravilhoso.

*** Não acredito na felicidade eterna, acredito em momentos felizes, como a maioria.

6 comentários:

  1. INTERESSANTE EM SABER QUE NOVOS LITERATOS SEMPRE APARECEM NA BLOGOSFERA, ADOREI OS TEXTOS INICIAIS, CONTINUE ASSIM...

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  2. Sem dúvida nenhuma, concordo plenamente. E sempre digo que o Faustão é o melhor programa da TV brasileira. Graças à ele, não é possível ficar em casa dia de domingo. Ainda bem. Conheci lugares fantásticos por causa disso. Já pensou se passasse algo de interessante na TV no domingo?

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  3. Só para não deixar dúvidas, a citação que eu fiz do Faustão foi uma alusão ao bordão (mais do que nunca) que ele sempre utiliza..
    Mas também acho uma porcaria o programa dele, como toda programação dominical..

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  4. Leandro, adorei esse texto, ficou excelente. concordo plenamente com vc, as pessoas de hj tem medo da solidao, medo de encarar elas msm.
    continue assim!!
    Priscilla Alves

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  5. Não tinha pensado nisso. Texto muito bom para refletir!
    Amanda A. H.

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