domingo, 14 de março de 2010

Edith Piaf-um hino ao amor


Há algum tempo que vi a este filme. No começo, relutei em assisti-lo, apesar de gostar das músicas e ter um conhecimento razoável da carreira desta artista. Sinceramente, o filme agradou-me muito, e achei merecidíssimo o Oscar 2008 de melhor atriz para Marion Cotillard, simplesmente foi brilhante a sua atuação.

A fotografia na maior parte do filme é escura, nebulosa, assim como a roupa que caracterizou e marcou Piaf no palco: o negro. Este se dividiu em dois tempos, o presente, acompanhando-a na infância, adolescência e fase adulta, e também, em flashes que nos remetia ao futuro. E por causa disso, às vezes, pode acontecer do espectador perder algumas partes chaves, comprometendo o entendimento. O não aprofundamento na segunda guerra mundial, época em que Edith teve maior popularidade, creio ser, talvez, uns dos maiores erros do roteiro, conjugando com a ausência do processo criativo de algumas músicas importantes na carreira dela. Uma cena em específica me incomodou muito, quando ela era criança mostra a S. Teresinha, santa que Piaf era devota, fato que não concordo em uma película biográfica, pois perde um pouco de credibilidade, dando um ar de misticismo e magia.

Feito essas considerações, apenas a atuação de Cotillard já valeu. Ela conseguiu transmitir com muita competência a difícil trajetória de Piaf, uma vida recheada de tragédias e emoções que compunham um drama digno de uma francesa que viveu para a música. Edith era o produto do seu meio, mas muito mais do que isso, ela representava a alma francesa e o sentimento mais profundo de tristeza que caracterizava o seu tempo. No palco era sublime, tinha uma voz de pardal (Piaf), límpida, forte e bela. Tinha uma presença inconfundível, e letras que falavam de coisas de seu tempo, tristeza e mensagens universais que até hoje são vigentes.

Aproveito para pontuar algumas cenas positivas que demonstraram a competência do diretor Olivier Dahan. Em uma há um plano-seqüência excepcional em que a câmera, sem cortes, acompanha Piaf andando por um grande apartamento de Nova York, enquanto imagina estar tendo uma conversa com seu amado, o boxeador Marcel Cerdan (Jean-Pierre Martins). Quando o empresário e amigos lhe comunicam uma tragédia, Cotillard passa da alegria para a descrença e chega ao desespero, tudo em frente à câmera que, continuamente, vai registrando todas estas emoções. O plano termina em uma cena em que Piaf passa magicamente do quarto para um teatro lotado, em que termina uma canção dramática. Esta cena representa muito bem o que foi a sua vida, diria até que foi o momento em que poucos minutos resumiu a sua história, que misturava; glória e frustração, tristeza e alegria. Outra cena que me marcou pessoalmente aconteceu em uma de suas últimas interpretações, ela já estava extremamente debilitada, os críticos diziam que era a turnê do suicídio, e quase desmaiando no palco, ela inicia uma canção (mon manege a moi), contudo não consegue terminá-la e sai escorada; no camarim, o seu produtor insiste que ela não voltaria mais, e que seria suicídio persistir. Acho muito bonito a sua resposta, ela diz: eu preciso cantar, cantar é a minha vida.

Finalizando, a cena final é uma das mais belas, em que Piaf está na cama nos seus últimos suspiros e ao mesmo tempo inicia-se uma canção no palco, em que canta: Non, je regrettre rien (Não, eu não me arrependo de nada, tradução livre), música que conseguiu de certa forma sintetizar toda uma vida, simplesmente sensacional, uns dos pontos altos do filme, em minha opinião.

Portanto, indico-o para aqueles que querem conhecer uma das maiores intérpretes da música mundial de todos os tempos, uma pessoa insubstituível, que apesar dos seus excessos, era única e para sempre será lembrada. O filme é emocionante, e comoverá a todos que percebem a inevitabilidade da morte e a necessidade incondicionada do amor. Assim, mesmo para aqueles que não a conhecem, indico, pois Edith Piaf estará para sempre incorporada no consciente coletivo da humanidade.

Nota: 8.756

Trailler :http://www.youtube.com/watch?v=T-LzEPS7ji4


8 comentários:

  1. Tava mesmo querendo ver esse filme, Leandro.
    Não conheço nada da Piaf e é uma forma fácil de ver a vida dela.
    Quanto a essa nota no final, é atribuição sua?
    Como vc chegou numa nota tãão quebrada bixo??
    hehehehe
    abraço

    Leon

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  2. Esta nota foi aferida com base em cálculos aritméticos, estatísticos, probabilísticos e Leandrísticos, para chegar a este resultado.

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  3. Leandro, parabéns pelo texto, a cada dia você nos consegue surpreender com a sua capacidade de análise. Para falar a verdade, nunca tinha ouvido falar de Edith Piaf, mas com este seu texto, sábado vou correr à locadora para alugá-lo.. Abração!!

    Pedro Henrique

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  4. Aproveitando o texto como sendo uma sugestão, deixo aqui a minha. Além de ser um excelente filme, é uma obra nacional (afinal, ainda hoje se tem muito preconceito contra nosso cinema).O filme "Quanto vale ou é por quilo" não teve repercussão. Talvez porque não fosse interessante repercutir, pois o mesmo é uma "denúncia" feita a respeito da falsa e corrupta responsabilidade social existente hoje no país. O autor do filme, Sérgio Bianchi, aproveita o assunto bem abordado para fazer uma analogia à escravidão no Brasil. Enfim, assistam! Vale a pena!

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  5. o que é arte nunca morre e piaff, é digno de tal merecimento, vi o filme 4 vezes em epocas diferentes, amei...

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  6. Vi ontem, Leandro. Espetacular, sublime, faço de minhas palavras as suas, só não concordo com a parte da santa, achei que ficou bom, o filme foi mágico, me surpreendi, e recomendo aos seus eleitores!!

    Pedro Henrique

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  7. Bela crítica! Eu jamais conseguiria apontar pontos negativos, já que fiquei apavorado com a interpretação da Marion. É simplesmente uma das atrizes mais merecedoras de um Oscar que eu já tive o prazer de apreciar o trabalho.
    O filme tem essas três linhas de tempo que se cruzam durante a obra. Penso que se a história fosse contada com uma linha só, talve não tivesse alcanãdo tamanha profundidade. Marion simplesmente recebe o espírito de Piaf quando interpreta sua vida. É algo que foge as proporções terrestre, é praticamente divino! Nenhuma outra atriz conseguiria passar toda a densidade que Edith tinha. Cantar era a sua vida... Partiu quando não pôde mais cntar, não pôde mais exercer sua vida. Edith Piaf é atemporal, não pertence a uma época específica. Ela será sempre uma diva que provocará as reaçõs mais doloridas e intensas naqueles que ovem a sua voz, vinda de um peito pequeno e com uma potência quase inacreditável.

    Edith Piaf é ETERNA!

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